Toda forma de dominação, opressão e exploração tem as suas raizes em um imaginário construído socialmente a partir da cultura em que estamos inseridos. Geralmente, essas discriminações são ainda praticadas devido a nossa constante dissociação no alinhamento do que realmente acreditamos com as nossas ações cotidianas.
Uma dessas ideologias é o carnismo. Cunhado pela psicológica Melanie Joy no livro “Por que amamos cachorros, comemos porcos e vestimos vacas”, o termo é definido como o conjunto de crenças invisíveis que condiciona os indivíduos a comerem certos tipos de carne de animais. O discurso ao redor desse consumo é bastante intenso e apelativo, geralmente vindo de grandes instituições com poder hegemônico e capital, como o agronegócio e seus oligopólios alimentícios, que lucram com a venda dos corpos desses animais.
Desde a nutrição ao paladar, as falácias da necessidade de carne para a sobrevivência humana perpassam os mais variados argumentos que acabam, muitas vezes, caindo em contradições e se revelando como desculpas para se colocar um véu ao nos depararmos com uma crítica sobre padrões de comportamento e pensamento.
O fetichismo da mercadoria, proposto pelo economista alemão Karl Marx, se baseia na desconexão entre o produto comprado e consumido no mercado com todo o modo de produção que aliena o consumidor desse processo. Ele permite que a mercadoria seja avaliada como sujeito da relação mercantil e o indivíduo, como objeto. Esse fenômeno capitalista é um dos principais motivos de haver essa dissociação entre os pedaços desmembrados de animais nos mercados com os seus corpos inteiros vivos antes do abate. Ademais, os nomes dos cortes serem diferentes das respetivas partes biológicas, como picanha e filé, é mais uma evidência desse desligamento.
Entender o que nos impulsiona a agir como sempre o fizemos é fundamental para reflexão e a posterior mudança dos nossos hábitos que devem estar conectados ao anseio por mudanças sistêmicas. A alimentação vegetariana estrita dentro da filosofia vegana é uma alternativa para uma vida sem objetificação animal em qualquer âmbito.